Seminário vai discutir o resgate da carreira de pedagogia
Brasília vai receber no próximo dia 27 uma etapa da rodada de seminários Profissão professor: o resgate da pedagogia, promovido pelo Instituto Alfa e Beto (IAB), em várias cidades do país. O objetivo é discutir práticas educacionais de sucesso com especialistas de vários países. O mesmo seminário ocorrerá em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campo Grande. Confira uma entrevista com o diretor do Instituto sobre a atual situação da formação de professores no Brasil.
É a primeira vez que o IAB realiza uma rodada de seminários? Qual o objetivo?
Temos feito seminários com outros parceiros, como a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e a Confederação Nacional do Comércio, mas essa é a primeira vez que o IAB toma a iniciativa de realizar o evento. O objetivo é trazer à discussão no Brasil as evidências mais atuais sobre o que funciona na educação em sala de aula, como organizar o ensino para o aluno aprender.
Como vai ser essa rodada?
O mesmo seminário vai ocorrer em seis capitais: Recife, Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campo Grande. Escolhemos uma pessoa para falar sobre a visão geral, o que é educação, como se coleta evidências nessa área. O professor Clermont Gauthier, do Canadá, é uma referência e tem publicado muito sobre isso. E depois, escolhemos temas específicos. Para falar de alfabetização, escolhemos um português que hoje trabalha na Bélgica e é um dos maiores especialistas nesse tema, o professor José Morais . O professor Roger Beard, que vai falar sobre formação de professores em ensino de línguas, e o Nuno Crato, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, que tem feito uma cruzada em Portugal pelo ensino de matemática.
Na sua opinião como está a formação de professores no Brasil?
Totalmente equivocada. Os professores não aprendem nem os conteúdos necessários nem as metodologias adequadas. Isso já foi objeto de vários diagnósticos, mas nunca de solução. Além disso, os cursos não conseguem atrair pessoas com nível bom. Quando você pega outros países, os futuros professores estão entre os 25% melhores do ensino médio. No Brasil, eles estão entre os 10% com as piores notas do Enem.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, por encomenda da Fundação Vitor Civita, revelou que os cursos de pedagogia trazem muitas disciplinas conceituais e teóricas, como filosofia e sociologia, mas que a prática fica restrita a 30%. O senhor concorda?
Sim, mas o pior é que as teóricas estão equivocadas, as coisas que ensinam nessas faculdades em geral não são cientificamente validadas, são ideologia. Não adianta apenas ensinar bem, você tem que ensinar as coisas que têm fundamento. A influência ideológica nessas universidades é muito forte e a cientifica é muito pequena.
Porque a carreira de professores não tem atraído bons alunos?
Em grande parte porque houve uma difusão no Brasil da ideia de que a profissão de professor é muito ruim. Mas muitos professores são adorados por seus alunos, principalmente na escola primária. Em Brasília, por exemplo, os professores ganham acima da média da população, mas essas coisas ninguém sabe porque nos últimos 30 anos difundiram mitos de que a profissão é ruim.
Quais são as perspectivas para o jovem que se forma?
Mercado tem, mas as pessoas que têm procurado o curso não têm uma formação muito sólida, por isso as perspectivas não são boas. Como em qualquer profissão, para se dar bem, a pessoa precisa ter uma boa formação. Temos que começar a atrair gente de nível bom para começar a melhorar a qualidade desses cursos, mas isso não depende do jovem, depende de políticas públicas.
E o que pode ser feito para atrair bons alunos para os cursos?
A primeira coisa é a atratividade da carreira, fazer campanha públicas mostrando que a profissão tem coisas boas. No Rio de janeiro, um professor que trabalha 40 horas ganha R$ 3 mil e 500, como em qualquer carreira. Precisamos tirar esse ranço ideológico, valorizar a carreira para atrair bons alunos e dar uma formação boa. Mas isso é uma política grande, leva tempo para mudar essa ideia.
Como o senhor vê a interferência do MEC na avaliação dos cursos de pedagogia? Ela deve trazer benefícios?
Não. Não vai dar resultados porque, primeiro, você não muda o perfil de recrutamento. Segundo, você vai ensinar um pouquinho melhor as mesmas coisas erradas, porque não vai mudar o currículo. Dá uma aparência de um certo rigor, mas não tem eficácia.
Isabel Vilela, www.correiobraziliense.com.br/euestudante/
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